sexta-feira, 18 de maio de 2012

ANTIMANICOMIAL


ENTREVISTA SOBRE LUTA ANTIMANICOMIAL.
Concedida a Gilberto Cardoso dos Santos

GILBERTO: Dr. Epitácio, por que se escolheu o dia 18 de maio para ser o dia da Luta Antimanicomial? Quais as origens dessa luta?

Dr. Epitácio: Há 25 anos, mais precisamente, em 18 de maio de 1987, um conjunto de técnicos de saúde mental, usuários e familiares dos serviços de saúde, além de outros militantes políticos, particularmente da causa da reforma sanitária, reunidos em Bauru/SP, após amplas discussões sobre a violação dos direitos humanos em instituições manicomiais e a constatação da inadequação terapêutica destas, decidiram criar um movimento nacional e comemorar nesta data a efetivação desta conquista libertária.
                                                          Folder de Evento Antimanicomial
GILBERTO: Quais os principais pressupostos dessa campanha? O que, de fato, desejam estes ativistas?

Dr. Epitácio: Não é uma campanha. É um movimento social organizado que luta para construir a superação do modelo manicomial na sociedade, que deve ser construída sem manicômios. Luta ainda pela estruturação de uma rede de serviços de saúde mental substitutiva aos serviços com características manicomiais, formada por CAPS (Centros de Atenção Psicossocial); leitos psiquiátricos em hospitais gerais; urgências/emergências psiquiátricas integradas com serviços gerais, como SAMU; oficinas terapêuticas; lares abrigados; pensões protegidas; formação de cooperativas de usuários; desenvolvimento de uma rede de economia solidária; ateliês terapêuticos; serviços ambulatoriais; dentre outros. Superar o preconceito contra os usuários/portadores de transtornos mentais; Denunciar as situações de violência e outras violações dos direitos humanos.

GILBERTO: Quais as alternativas à vida no manicômio?

Dr. Epitácio: No manicômio, não há vida. Há violência, reclusão, liberdade vigiada, ócio forçado. A sua construção foi à solução encontrada há 200 anos. Hoje não se sustenta a sua defesa, do ponto de vista científico e da evolução da sociedade contemporânea.
 
 Médica psiquiatra Nise da Silveira

GILBERTO: O senhor de fato crê que as artes de um modo em geral podem ser fatores significativos na recuperação de um paciente? De que dados dispõe para acreditar nisso?

Dr. Epitácio: Acho que a experiência terapêutica e de vida de Nise da Silveira é suficiente para se constatar que a arte é vida, é terapia pura. Evidente que isto, deve estar integrado com as modernas técnicas farmacoterápicas e psicoterápicas. É fundamental conhecer as experiências de vida de Van Gogh e de Bispo do Rosário, para se perceber como a arte foi importante para que estes artistas suportassem a dor imposta pela clausura manicomial.
                                                                 Estátua de Bispo do Rosário
GILBERTO: Imagine a seguinte situação: um esquizofrênico mata alguém e é posto na cadeia. A família prefere não informar isso às autoridades a fim de evitar sua ida ao manicômio. Que análise o senhor faria deste caso hipotético?

Dr. Epitácio: Acredito que o estigma da periculosidade do doente mental tem que ser superado. As populações não-psiquiátricas são, infinitamente, mais violentas do que os doentes mentais. A violência enquanto ação deliberada é muito mais praticada pelos ditos “normais”, do que pelos doentes mentais, que tendo acesso à terapêutica e aos processos reabilitativos, tenderão a uma vida integrada e participativa. Aliás, a violência que possa vir a ser cometida por portadores de transtornos mentais está sempre relacionada ao abandono sócio-familiar, a vitimização do preconceito e a ausência e/ou inadequação de tratamento. Também se deve compreender a diferença entre perversão e doença mental.
                                         Lobão com folclorista João de Artur e Banda Antimanicomial 
GILBERTO: Não acha que os doentes mentais são hoje tratados com mais humanidade que em épocas passadas? Não lhe parece justo que alguém perigoso à vida em sociedade permaneça no isolamento?

Dr. Epitácio: O caminho das mudanças no modelo assistencial em saúde mental vem sendo conquistado com a luta política, com a organização dos segmentos que mantém a capacidade de se indignar com a desumanidade e a injustiça. As conquistas de um novo modelo se dão no enfrentamento aos que sempre faturaram alto com o modelo manicomial, com as “fábricas de loucura”. Não raro, os militantes antimanicomiais carregam uma história de perseguição e ameaças. “Eu sou um que sabe...” 
  
GILBERTO: Fale-nos sobre o filme Bicho-de-sete-cabeças e de algum outro que trate desta temática. Há alguma outra indicação?

Dr. Epitácio: O filme ¨Bicho-de sete-cabeças” é um denúncia sobre a violência manicomial. É baseado no livro “Canto dos Malditos”, de Austregésilo Carrano, um militante antimanicomial, que foi perseguido e injustiçado até sua morte. Deve ser um programa cultural obrigatório para os que não perderam a capacidade de se indignar diante do sofrimento produzido institucionalmente.
  
Manifestação política do Movimento Antimanicomial
GILBERTO: Há algum país ou instituição brasileira que o senhor citaria como padrão a ser seguido pelos que cuidam da saúde mental?

Dr. Epitácio: A experiência de Franco Basaglia na Itália é histórica e referencial para se iniciar a compreensão acerca da evolução da construção antimanicomial. No Brasil, é importante conhecer o caminho da Saúde Mental em Santos/SP, com a substituição do Manicômio, conhecido como “O Anchieta”, o desenvolvimento do projeto “Rádio Tam Tam”... No Nordeste, mais precisamente, em Sobral no Ceará, o homicídio do paciente Damião Ximenes determinou o fechamento do manicômio daquela cidade e sua substituição por uma rede de serviços de saúde mental. Por este episódio fatídico o Estado Brasileiro recebeu a primeira condenação numa corte internacional de justiça. Há mais de 10 anos, fui agente proativo pela substituição total do manicômio de Caicó/RN que tem uma ficha longa de violação de direitos humanos, mas o caminhar do processo vem sendo muito lento, apesar da implantação de serviços na região do seridó potiguar.

GILBERTO: Deixe uma reflexão e/ou orientação às pessoas que têm doentes mentais em suas famílias.

Dr. Epitácio: Não se deve perder a esperança. Há possibilidade de melhorar as situações que envolvam os problemas de saúde mental. Superemos o preconceito, participando dos serviços substitutivos, reivindicando sua implantação e buscando compreender o processo saúde-doença mental que está em todos nós!

18 de Maio

18 de Maio - Dia Nacional da Luta Antimanicomial
                           Há 15 anos, em 18 de maio de 1997, fui um dos protagonistas do 1º Encontro Estadual da Luta Antimanicomial no Rio Grande do Norte. Na foto, com usuários, familiares, técnicos de saúde mental, Danúbio "Pau e Lata", Zé Gonçalves, Cláudio Saraiva, além do grupo teatral "Alegria, alegria", em cortejo antimanicomial, numa manhã de domingo, na Praia de Ponta Negra - Natal/RN.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"A Saga dos Limões Será Relançada em Natal"
Foto: João Batista de Moura
                                                         Capa do Livro                              

                             Inserido na programação da 40ª edição da Feira Lítero-poética do Colégio CEI-Mirassol (Centro Educacional Integrado), em Natal, capital do Rio Grande do Norte, nos dias 16 e 17 de maio, a partir das 11 horas, haverá o relançamento do livro "A Saga dos Limões - Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno Brilhante", do médico psiquiatra e pesquisador social Epitácio de Andrade Filho.

Foto: Tiara Andrade
 Reunião de planejamento do evento
                     O convite ao escritor para participar da 40ª Feira Lítero-poética, que ocorrerá no auditório do CEI-Mirassol, partiu do professor de língua portuguesa Jerônimo Linhares Braga e da coordenadora geral da unidade educacional Rosângela Siqueira.

Foto: Epitácio Andrade
Colégio CEI-Mirassol

                                  A Feira Lítero-poética celebrará os 40 anos de serviços educacionais do Colégio CEI-Mirassol e contará com grandes nomes da cultura potiguar. Particularmente, para o relançamento de "A Saga dos Limões" estão convidados: o escritor Emanoel Amaral e o pesquisador Aucides Sales, consultores da obra; o diagramador Alessandro Amaral; os músicos Cláudio Saraiva e Dudé Viana; além de representantes da Família Limão.
Foto: João Batista de Moura
 Pesquisador Epitácio Andrade com "A Saga dos Limões"
                                             "A Saga dos Limões" é um ensaio historiográfico sobre o segmento étnico, representado pela Família Limão, constituído por remanescentes indígenas e descendentes de ex-escravos, que resistiram ao recrutamento forçado para a Guerra do Paraguai (1865-70), participaram da Insurreição dos Quebra-quilos (1874-75) e enfrentaram o cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844-79).
Foto: Epitácio Andrade
 Aucides Sales e Cláudio Saraiva 
                                      Do quadro de pesquisadores da Fundação Cultural José Augusto, Aucides Bezerra de Sales foi um dos pioneiros a introduziu nas pesquisas sobre o cangaço "Brilhantes X Limões", conteúdos que envolvem a etnicidade da Família Limão. Na ocasião do evento de relançamento, Aucides Sales fará intervenções orais e apresentará um interlúdio musical com o cantor e instrumentista Cláudio Saraiva.
Foto: Tiara Andrade
 O autor com o diagramador Alex Kidd 
                                       O design gráfico Alessandro Amaral, "Alex Kidd", foi convidado para fazer uma exposição sobre o trabalho de confecção do livro, desde a criação da capa e a elaboração das "orelhas" de autoria do antropólogo Geraldo Barboza, passando pela montagem da "folha de rosto" e a formatação página a página, até chegar a tomada de preços nas editoras para impressão e o registro na biblioteca nacional.
Foto: Epitácio Andrade 
Músico Dudé Viana
                                     O cantor e compositor Dudé Viana foi convidado para fazer dois interlúdios musicais, apresentando as canções: "Outdoor de Cultura Popular", de sua autoria que homenageia o folclorista Luís da Câmara Cascudo, e "Cantofa e Jandi", romance de cordel de Aucides Sales que versa sobre a guerra contra os índios pajeús.
Foto: Cristina Cláudia
O autor, uma peça museológica e Emanoel Amaral
                                        A intervenção oral do escritor e desenhista Emanoel Amaral deverá abordar uma retrospectiva dos trabalhos de pesquisa para a elaboração de "Jesuíno Brilhante em História de Quadrinhos", a partir do ano de 1981, quando resgatou na zona rural de Patu, no médio-oeste potiguar, "a chave e o cadeado" da fortaleza do coronel João Dantas de Oliveira, principal articulador da emboscada fatal, comandada pelo cabo Preto Limão, que ceifou a vida do cangaceiro Jesuíno Brilhante, em dezembro de 1879.
Foto: Pica-pau
Professor Jerônimo, o autor e membros da Família Limão
                                 O evento de relançamento de "A Saga dos Limões", nos 40 anos do Colégio CEI-Mirassol em Natal/RN, terá como convidados especiais representantes da Família Limão que, segundo o autor, compõe o patrimônio histórico nacional.


 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Uma Viagem Transcultural ao Universo das Sagas Nordestinas
          
                       A partir do monumento das estátuas de Jackson do Pandeiro, o "Rei do Ritmo" e de Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião", em Campina Grande, na Paraíba, em dezembro de 2011, os agitadores culturais Epitácio Andrade, Dudé Viana e Gilberto Cardoso fizeram uma "viagem transcultural" pelo universo de algumas sagas nordestinas, inserindo-as na evolução cronológica da história do surgimento das artes no desenvolvimento social da humanidade.
 
 


AGITADORES CULTURAIS 
Epitácio de Andrade Filho
(Médico Psiquiatra, Pesquisador Social e Escritor)

Dudé Viana
(Cantor, Compositor e Escritor)

Gilberto Cardoso dos Santos
(Professor, Poeta e Cordelista)
 

                              O conceito de sagas foi buscado em "A Saga dos Limões", como sendo um nome genérico para antigas narrativas e lendas escandinavas sobre conflitos familiares e outras situações conflituosas, nos países nórdicos, passando pela Europa, até chegar nas Américas, entre os séculos XII a XIV, que depois foi disseminado pelo mundo, como sendo uma "espécie" de gênero literário.
                    Depois do conceito de "Sagas", os agitadores começaram a "viagem" para inseri-las no contexto nordestino pela música (descoberta do som), depois pela dança (possibilidade do movimento coletivo), passando pela pintura (despertar para as cores) e pela escultura (tendo noções de dimensões), evoluindo o pensamento com o teatro (capacidade de representar), transitam pela invenção da escrita (produzem livros) e chegam ao cinema (sintetizando todas as artes com a produção audiovisual).  

 

Música
“Cantofa e Jandi”, de Aucides Bezerra de Sales.




Música
A Corujinha, de domínio popular, cantarolada pelo Bando do Cangaceiro Jesuíno Brilhante

Dança
Toré”,  dança tradicional dos potiguaras de Baía da Traição/PB e Catu-Canguaretama/RN
  
Dança
Maculelê, de Tibau do Sul/RN.

Pintura
Pinturas Rupestres



Pintura
“A Guerra de Canudos”

Escultura
Gravuras Rupestres
Itacoatiaras do Ingá/PB

Escultura
Peças Utilitárias e Expressivas de Manoel Pereira



Escultura
Escultura em Pedra de Lampião, o Rei do Cangaço

Teatro
Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna
 
Teatro
Capitão do Folclore João de Artur – Patu/RN

Literatura
“A Saga Benevides Carneiro”, de Dudé Viana

Literatura
 
Escritor José Gregório de Medeiros,
Autor de “Jesuíno Brilhante – Cangaceiro e Herói” e “Sertão Perverso”.

 

 

Literatura
“O Doutor e o Cangaceiro”, folheto de cordel de Gilberto Cardoso dos Santos

Cinema
Documentário: “Dinamérico, o Poeta”, de Ismael Moura.
  
Cinema
Documentário: “Cangaço e Negritude”, da Rede Potiguar de Televisão. 
 




 





 

segunda-feira, 7 de maio de 2012


SÓ CREIO EM PÓ DE ESTRELA

Desde os primórdios
quando os humanóides cultuava apenas(mente) o pensamento mítico,
azimute do entendimento cosmogônico simplório,
alguns obstinados, antenas antrópicas
vislumbravam um conhecimento além dos achismos, dos mitos,
do senso comum das tradições.

Os pré-socráticos, precursores da aventura grega do saber filosófico.
Instigados, subverteram a cosmogonia deflagrando a cosmologia:
a crença na origem divina/mítica do mundo
foi substituída pela busca da “Arché” ( princípio de tudo)
e da “Physis” (elemento primordial/eterno, essência).

Por isso, chamados de filósofos da natureza.
a Busca da verdade universal, válida para todos.
Um conheci¬mento racional de tudo que existe no universo.
Irrefutável. Insofismável...
Repensam o cosmo, o homem, e os deuses com base na razão.
Libertam o homem da insegurança imposta pela mentalida¬de mítica.

A origem do mundo; as causas de transformação da natureza.
Construção do pensamento ante a realidade aprendendo com a experiência cotidiana.
Fruto do progresso da valorização da “medida humana”,
da laicalização da cultura, numa visão holística/globalizante.

ANAXÁGORAS DE CLAZÔMENAS (499-425 a.C):
Uma visão metafísica da natureza.
Um conjunto de coisas diversas que procedem
de um mesmo princípio e que a ele retornam.

HERÁCLITO DE ÉFESO (540-475 a.C):
O movimento perpétuo do mundo.
o conflito, a luta e a contradição são a própria essência de tudo.

PITÁGORAS DE SAMOS (570-490 a.C):
a essência permanente do mundo encontra-se em princípios matemáticos
Sustentava a existência da alma imortal.

TALES DE MILETO (623 - 546 a.C)
buscou o princípio único ou substância fundamental que permanecesse estável
para ele era a água, elemento presente em todos os seres vivos.

DEMOCRITO DE ABDERA (460-370 a.C):
o átomo como explicação da diversidade
As pessoas constituídas de átomos de alma e átomos de corpo.

Perplexos, perguntavam ávidos:
A ordem está no todo? Tudo é água? Todas as coisas são números?
Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo?
O homem é um microcosmo?

Agora, num pós-tudo modernoso
em ágoras virtuais, de supercondutores e microchips
empiricamente, em modelos matemáticos surreais
testamos hipóteses de relevância teológica.

Adentrar no hipocentro da aceleração de partículas
olho no olho com o bing bang
materializar deus,
desmistificar a história
detonar dogmas, religiões e igrejas.

De resto,
sair de bobeira
desmaterializando-me pó de estrela
suspenso, levitando no ar
saltitando como poeira cósmica em alto mar
Daqui pra Dakar.

Sem fim,
de pó em pó
reciclando-me em existências efêmeras
Senhor de mim.


P.S

De: Plínio Sanderson Saldanha

domingo, 6 de maio de 2012

FRASEOLOGIA DA PRAIA DA PIPA

                      Na companhia de Emanoel Messias Lopes dos Santos, procurei desvendar um pouco da fraseologia da Praia da Pipa, a antiga "Piracema dos Tapuios", no litoral sul do Rio Grande do Norte.

                       
                         "Tudo nasce de uma piada".


                            Tem um golfinho no meio do caminho...


                            ...e a biblioteca de Tibau do Sul/RN.


                                 Uma frase de Fernando Pessoa:


                                    Frase em xilogravura:


                                    "O direito cosmogônico à preguiça"


                                     Lembrando de quem gosta, presenteando com camisetas:


                                       Uma frase de Gabriel Garcia Marques:


                                      Telas de Demetrius Montenegro, que ditam frases:

 
                                      Visita à poetisa Rita Gava:


                                      Praia da Pipa, uma frase visual.